Bora então comprar umas sapatilhas!
E com uma frase destas se dá início a uma adição, um vício, um novo estilo de vida.
É engraçado como todos os anos, com mais ou menos ênfase, tens um mesmo estilo de ciclos, e, naquele ano, ao iniciarmos a viagem que nos traria de regresso do último período de férias do verão, aquela pareceu-me uma excelente frase para concentrar as minhas atenções. Simplesmente não me apetecia pensar que agora tínhamos um ano inteiro de trabalho pela frente, e férias era uma ideia muito desvanecida, lá bem longe quando finalmente deixasse de chover outra vez!
Podia ter sido uma outra coisa…que acho que ia servir na mesma, mas não, a conversa foi para as sapatilhas e para um teste às corridas.
Vivia-se o Agosto de 2015, e eu tinha passado os últimos 16 meses em visitas crescentes à piscina, depois de, por diversas entidades ter sido dado como apto a viver a minha vida muito devagarinho, com cuidado, e sobretudo com muita paciência relativamente a problemas de saúde crónicos, que teria que suportar para o resto da vida, e tentar gerir juntamente com atividades profissionais e desportivas o menos exigentes possível.
Contrariamente a todas estas previsões, a evolução tinha sido notória, e, 12kg mais pesado, aquilo que tinham sido as primeiras visitas à piscina, em que nadava de uma ponta à outra e descansava dez minutos para voltar a fazer… e assim durante meia hora, uma vez por semana, já nada tinha a ver com as visitas diárias que agora estava a fazer, para nadar 500 ou 750mts seguidos, sem uma única paragem.
Então, porque não desacreditar e desobedecer à classe médica, e testar o esqueleto no running?!
Pois bem, a conversa convenceu-nos aos dois, e embora nunca tivesse corrido mais de um quilómetro seguido, mal chegámos a Leiria, lá fomos dar uma passeata à Decathlon à procura do equipamento adequado. Muita opção, muita cor, muito estilo, muitas dúvidas e confusões na cabeça… mas acabei por conseguir não me perder muito e sair de lá com um excelente modelo – primeiro preço, umas ASICS Stormhawk, buéda giras! (quer dizer…pretas e tal, mas com uns pormenores em amarelo fluorescente), que mal as calcei, achei logo ser um runner a sério!
Agora só faltava experimentar, mas o conforto e amortecimento que sentia, davam-me confiança para achar que seria capaz de infindáveis quilómetros, talvez a 20 ou 30 à hora. OK, não foram infindáveis…foram 3 kms, e não foi a 20 ou 30…foi a 9,50 km/h.
Mas a sensação foi brutal…achei de facto o máximo. Principalmente até porque, pela primeira vez na vida, parece que tinha aprendido que se podia correr devagarinho…e assim, tudo isto estava bem ao meu alcance!
O entusiasmo não podia, de forma alguma ser perturbado, e por isso, com um dia de intervalo pelo meio…lá fui eu outra vez para a minha segunda etapa de corredor. Foi basicamente uma repetição. Gostei e prometi voltar! E voltei! Com mais um dia de intervalo, arranquei para mais uma voltinha de 3 a 9km/h…muito fixe!
…mas no dia seguinte, nem tanto! Doía-me tudo! As pernas, as pernas…estava literalmente sem joelhos!! Começaram a inchar, e no dia seguinte…pior, e dois dias depois pior, e cada vez pior!
Dei cabo dos meniscos! Eh pá! É que nem conseguia andar… e assim foi o resto da semana, na semana seguinte, passadas duas semanas… e três. Estava a ponto de ir pedir baixa, pois estava a ser dificílimo deslocar-me.
O que é que fui fazer??!
Tudo estava de novo em causa, e agora, até a minha companheira, que tinha vindo com a brilhante ideia do running, mas que entretanto tinha encostado as sapatilhas novinhas, me vinha com avisos e previsões negras. - Não vale a pena! Tu não podes correr. Já percebemos que o teu esqueleto não suporta o embate da corrida. - Quando ficares bom, tens mais é que esquecer esta cena. Continuas na piscina, que já vimos que te faz bem!
OK, ok … ok! Percebi tudo… muito bem até! Mas, um mês depois da primeira vez, agora que já estava a conseguir andar razoavelmente bem novamente, bastante contra a vontade da minha “treinadora” …fui experimentar a fazer mais 3 kms!
Não foi fácil, 3 a 9 km/h, passados 5 dias, mais 3 a 8,5 km/h e com mais cinco dias de recuperação, mais 3 kms a 7,5 km/h.
A coisa parecia muito mal encaminhada, os meniscos sempre a querer inchar e a não querer recuperar, a minha mulher a dar-me forte na cabeça, e eu a teimar! Mas ainda bem que o fiz… teimei, apostei, arrisquei, e…
independentemente do que venha a acontecer de futuro…entretanto já rompi aquelas e mais uma dúzia de pares de sapatilhas e posso bem dizer que fui runner!
Pelo menos por 5500 kms...
para já!