
NIKE Pegasus 32
2017-2022; 1412,5 kms;
2x Maratona; 8x Meia Maratona
Nada é eterno!
As minhas primeiras "pegasus"...
É verdade que quando paguei 40€ por este par extra de sapatilhas, longe estava de imaginar quanta e tão boa companhia me fariam estas amigas! Eu nem fui lá comprar este equipamento...
...de facto, nesse dia até fui comprar (e comprei) um modelo de sapatilhas em que acreditasse, nas quais estivesse seguro e que me apadrinhassem na primeira aventura nos 42. Mas já quase à saída, este par e principalmente este preço atraiu-me, e... já que estava a treinar para uma maratona, (e quando assim é, faz-se muitos quilómetros), decidi trazê-las também!
O pior que podia acontecer seria deixar de parte para umas jogatanas de ténis ou passeatas...era sempre bem comprado, e depois, efetivamente já tinha ouvido qualquer coisa sobre esta série...Pegasus, parece que não eram más de todo.
Arrisquei e trouxe-as para casa!
Rapidamente, não me contive (sempre assim é), e fui testar este par.
- É pá, até nem são más de todo!
As primeiras impressões foram vindo sempre numa boa tendência, e como que meio surpreso, fui passando estas sapatilhas para primeiro plano, sendo que, já sem surpresas...quando fui a Bordéus estrear-me na Maratona, a escolha das companheiras de confiança, foi nas minhas pegasus.
Isto até pode roçar o ridículo, não... o "gajo" não está a escrever um artigo por causa de umas sapatilhas?! Será que está??
Bom, parece que sim! Tipo uma espécie de homenagem fúnebre às sapatilhas.
Mas a malta que faz umas corridas, saberá entender-me. Não poucas vezes, nos deparamos com estar a considerar os 18 pares de sapatilhas que nunca mais vamos usar, mas que...é uma pena descartar! Não é só pelo facto de que a maior parte delas está efetivamente em muito boas condições.
Tenho alguma sorte, porque parece que adoto uma passada de corrida bastante neutra (não podia ser tudo mau!), mas este particular relativo à passada, resulta que sempre que decido "encostar" um par de sapatilhas...lá pelo kilómetro 1200, mais metro menos kilómetro, estas raramente evidenciam acentuados sinais de desgaste. Posso dizer que, talvez dois, máximo três pares deixaram que o dedão rompesse ligeiramente a biqueira, e que em um ou outro par, de sola mais macia, esta alisou ligeiramente, mas regra geral, até os rastos ficam em muito bom estado. Até parece que serei eu um "spoiled child" e não faço um bom aproveitamento do ponto de vista da poupança e da economia do calçado de corrida.
Mas já todos sabemos que, já que andar por aí a correr com 30, 40, 50 e mais anos, sendo uma atividade consideravelmente impactante para a coluna e ossos e articulações em geral, a partir de determinado uso do calçado, é imperativo descartar e passar às próximas, sob pena destas já não estarem a recuperar e proporcionar o amortecimento necessário.
E assim foi com as minhas "Pegasus"...que belíssimas companheiras, mas tenho que deixar de usá-las. Não vou andar a forçar e achar que, só porque foram muito boas...vão continuar a ser.
Claro que há nostalgia! Facilmente, já que temos métricas para tudo, eu chegava à conclusão de quantas horas corri com estas sapatilhas, então não é simplesmente descalçar e deitar para o lixo.
Claro que não!
Estão ali muitas horas, muitos kilómetros, muitos pensamentos, muitos sentimentos...muitos momentos em que tu, especificamente pensaste nas sapatilhas que te estavam a levar e na forma como elas estavam a corresponder, ou a morder, ou não estavam a ser suficientemente vibrantes, ou simplesmente na tua boa, ou não tão boa decisão de ter trazido aquele específico par.
A propósito, recentemente fui conquistar a minha primeira medalha da meia em terras espanholas, e o parceiro que me acompanhou na aventura, um atleta muitíssimo mais a sério que eu, a poucos minutos de iniciar a prova, foi reverter a sua opção em relação às sapatilhas. Estamos a falar de dois pares de topo, mas a pressão e as dúvidas e nervosismo pré prova, fizeram com que o meu amigo se convencesse de que o calçado que tinha selecionado para aquele dia, não ia corresponder às expetativas...e lá foi ele fazer uma troca de última hora.
Felizmente a prova correu-lhe muito bem, a ponto de inclusivamente superar a sua melhor marca, e estou convencido de que, o resultado teria sido igualmente positivo mesmo tendo mantido as sapatilhas iniciais. Mas...e se não?!
Ele ficaria para sempre convicto de que efetivamente deveria ter trocado de calçado e o facto de não o ter feito, tinha condicionado a sua performance.
Esta ligação que se cria durante tanto e tão intenso tempo, faz com que, qualquer atleta...bom, qualquer talvez não.
Estamos de certeza a falar só da malta amadora. Apostava que uma Aurora Cunha, Rosa Mota, Carlos Lopes, não tiveram nem tem que lidar com isto.
Será que a Rosa Mota tem lá duas garagens alugadas na cave -2 de um prédio, cheias de sapatilhas??
Tipo: "estas foram comigo para Tóquio, aqueles quatro pares ali foram para Seoul..." etc, etc... Hum! Talvez não!
Mas os amadores, amam! Parece que tudo tem um significado especial, um grande peso e uma importância do tamanho da vida. Então ok, posso deixar de usar um par de sapatilhas por considerar que já cumpriram o seu papel como equipamento, mas ficam a fazer parte do coração. As primeiras disto ou daquilo, o par com que fui não sei onde, ou os exemplares que me fizeram obter este ou aquele resultado.
Posso até admitir que vou deixar de usar, mas descartar?
Pôr no lixo?? Livrar-me delas? Muito difícil!
Não digo que não haja por aí um monte de gente que já ultrapasou isto, claro. Mas penso não estar errado em acreditar que é um assunto difícil, para alguns e/ou muitos e que se agora não é, já o terá sido.
Depois é encontrares um meio termo entre, guardar religiosamente todos os pares que já alguma vez adquiriste, e quiçá até teres um armário mostrador com etiquetas e descrições, ou no outro extremo...não estares minimamente importado com nada disto. Ou algures no meio da jornada, desenvolveste mecanismos para te ajudar.

Eu por exemplo, tiro fotos!
Se tenho as métricas bastante bem documentadas com os percursos que as sapatilhas fazem enquanto no ativo na minha posse, passei a satisfazer-me com o eternizá-las através de fotografia, e assim, posso descartá-las ou até oferecer a alguém que ainda vá usar em caminhadas ou outras atividades.
Desta forma passei a guardar só as que estou a utilizar, o que me poupa bastante espaço e efetivamente é libertador do ponto de vista sentimental...porque isto de seres um colecionador ou guardador crónico, chega a um momento em que o teu espaço está cheio e na tua vida não cabe mais nada. E ainda tenho tanto para viver e outro tanto para acumular!
Sendo que esta conversa toda sobre sapatilhas, podia muito bem ser ligeiramente diferente e escrever aqui sobre as t-shirts das provas, que na maior parte das vezes...valendo pouco mais que nada, guardamos com o orgulho das conquistas, e que ninguém nos mexa com o raio das T-shirts! E o mesmo com os dorsais!
E...ai Jesus com as medalhas...isso aí então, é que nem vamos falar!